Feirante no MS faz macarrão oriental virar atração turística e bombar negócios
O empenho de uma feirante ajudou a transformar antigas barracas de uma feira de produtos hortifrútis e refeições em cartão postal de Campo Grande (MS). Com ajuda da percepção empreendedora de Alvira Appel, de 47 anos, os integrantes da atual Afecetur (Associação da Feira Central e Turística de Campo Grande, em MS) descobriram que a verdadeira vocação de seu negócio é cultura, expressa, entre outras formas, por meio de um prato típico dos imigrantes japoneses, que foi adaptado à culinária local: o sobá oriental.
Vencedora da etapa estadual do Prêmio Mulher de Negócios do Sebrae, serviço de apoio à empresa, a feirante e hoje presidente da associação foi reconhecida por ser a peça-chave no processo que envolveu ainda a integração de culturas imigrantes no modelo de negócio.
A influência da feirante, que vende figos e compotas, começou quando a prefeitura decidiu que as barracas, montadas a céu aberto, deveriam se mudar para um galpão fechado. A falta de infraestrutura, normas de vigilância sanitária e de regularização trabalhista não eram observadas, o que já havia motivado quatro mudanças de localização. “Foi em meio a esse processo que me aproximei, e os preconceitos eram muitos”, afirma a empreendedora.
Isso porque os feirantes faziam parte de um grupo muito fechado, de imigrandes nipônicos, que fundaram a associação em 1925. Além disso, a bagagem cultural de Appel, de origem germânica, era muito diferente da cultura japonesa.
Alvira Appel, presidente da Afacetur, ao lado do comediante Pedro Bismarck
A feira, liderada por homens, ainda enfrentava um momento difícil. “Instalou-se uma depressão forte naquela comunidade. As pessoas estavam acostumadas a vender seus produtos na rua e teriam de se reinventar. Como não havia a opção da permanência, ficaram paralisados.”
Isopores eram a única forma de armazenamento dos produtos, expostos em caixotes nas barracas de plástico. Eles não conseguiam visualizar, por exemplo, a mudança das caixas para câmaras frigoríficas, como fariam a regularização trabalhista. Técnicas de istração e boas práticas de controle e gestão avam longe das 350 bancas.
A feirante, no entanto, viu que era preciso reagir. “A quem não me dava a mão, eu retribuía com um abraço. Foi um trabalho de relacionamento, de conhecimento e confiança”, diz. Em 2006, ela candidatou-se à presidência da associação. Foi eleita com 70% dos votos, de uma maioria ainda apavorada com tudo o que estava por vir.
Mudança virou motivo para melhorar serviço
O primeiro o foi conhecer e organizar as mulheres. “Para sairmos da lona e irmos, com dignidade, para o prédio, buscamos o apoio do Sebrae e da iniciativa privada, Queríamos conquistar nossa autonomia e não ser mais um fardo para o governo.”
Um plano de negócios personalizado foi elaborado, tendo como ponto alto o calendário de eventos. Assim, os produtores visualizavam melhor os períodos de safra e em quais momentos eram necessárias ações para se movimentar a feira, pois os produtos não seriam o ponto forte.
A partir daí, o processo de mudança de local virou mote para melhorar o serviço. Capacitação em gestão, parcerias culturais com artistas regionais, formação de mão de obra; todas as ferramentas istrativas foram empregadas nessa transformação.
Sobá oriental foi eleito o primeiro bem imaterial da cidade
Um mês depois, a associação promovia sua primeira grande festa. “Para reforçar os traços culturais da comunidade e resgatar a ligação da imigração japonesa com a história de Campo Grande, elegemos o sobá oriental como mais um chamariz”, diz Alvira Appel.
Como os feirantes já preparavam o macarrão, adaptado da culinária oriental, semelhante ao yakissoba, não foi difícil estabelecer esse vínculo. A prefeitura também percebeu a oportunidade ao registrar o prato como o primeiro bem imaterial do patrimônio histórico e cultural da cidade.
Autoconhecimento
O meu pressuposto é a autoconfiança. Se você não está seguro do que quer fazer, peça ajuda. Fixado um objetivo justo e nobre, vale a pena lutar. Esqueça a opinião dos outros, jogue fora o medo, a tristeza e o preconceito. Todas essas chateações devem ser adubo para a construção seu ideal
“O sobá é a nossa grande planta, que cresceu forte e vistosa”, afirma Alvira Appel. Reeleita no ano ado, ela comemora o aumento no faturamento da feira em 60%, de 2006 a 2010. “Hoje, somos todos empresários, com condições de captar recursos. As pessoas têm orgulho de fazer parte da associação”, afirma.
Em 2011, foi lançada a primeira rede de franquias Sobá de Campo Grande, de restaurantes especializados no prato que é carro-chefe do centro comercial. A feira tem 1,2 mil pessoas com vínculo empregatício e, a cada trimestre, um grande show ou evento movimenta o espaço. Só a festa do estado, que vai ocorrer no local, o Festival do Peixe, marcado para 5 a 8 de abril e a sétima edição do Festival do Sobá, de 9 a 12 de agosto, reúnem mais de 150 mil pessoas.
Empreendedora veio do Sul e não estudou
Mãe de duas filhas e natural de Nonoai (RS), Alvira Appel se casou com um campo-grandense e aportou na capital do Mato Grosso do Sul, há 24 anos. “Alfabetizei minhas filhas em casa. Como não tinha qualificação profissional, compramos uma pequena chácara e eu plantava figo para ajudar no orçamento”, diz.
Da fruta para o doce foi um pulo e Alvira começou a vender, por conta própria, as compotas no Mercado Municipal. Próximo ao centro comercial, também no coração da cidade, antes de integrar a Feira Central de Campo Grande.
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